Compromisso pré-ecológico
Por Kêmilly Vitória e Kevin Andersonn
COMPROMISSO PRÓ-ECOLÓGICO
O compromisso pró-ecológico (CPE) é definido como a relação cognitiva e/ou afetiva positiva que as pessoas estabelecem com o meio ambiente ou parte dele, caracterizada por responsabilidade e interesse. Esse compromisso é formado por um conjunto de predisposições psicológicas, incluindo conhecimentos, atitudes, crenças, normas, valores e visões de mundo. Essas predisposições, influenciadas por fatores situacionais, se manifestam em práticas de cuidado e conservação do ambiente. Embora o interesse pelas questões ambientais sempre tenha existido, foi principalmente durante os anos 1970 que surgiram pesquisas focadas em avaliar o conhecimento e as atitudes das pessoas em relação ao meio ambiente.
Durante as
décadas de 1970 e 1980, as análises de atitudes ambientais começaram a
considerar variáveis individuais, como características de personalidade e diferenças
de gênero. Além disso, houve um movimento para incluir o contexto social e político
nos estudos sobre atitudes ambientais. Nesse período, também foram retomados
estudos que analisavam as influências das ações humanas sobre o meio ambiente,
incorporando valores, crenças e ideologia política. Essas pesquisas mostraram a
necessidade de integrar resultados de diversos indicadores psicológicos com outros
elementos situacionais para compor um quadro geral do compromisso pró-ecológico.
O termo "compromisso pró-ecológico" é entendido como um conjunto integrado de
indicadores frequentemente usados separadamente em escalas de atitudes,
crenças, motivações e valores pró-ambientais. Diversos autores utilizam a expressão
"preocupação ambiental", mas "compromisso" é considerado mais adequado por
representar uma postura positiva e menos vinculada ao modelo tradicional da
psicologia clínica, que enfatiza a anormalidade e o desajuste.
Analisar o termo "preocupação ambiental" é importante para entender o
posicionamento genérico das pessoas em relação à ecologia, ambiente e
sustentabilidade. Em inglês, "environmental concern" é amplamente utilizado, mas a
tradução para português e espanhol sugere "interesse" ou "preocupação", sendo a
última mais comum. No entanto, "preocupação" tem uma conotação negativa, pois
implica algo que as pessoas desejam eliminar. Por isso, "compromisso ambiental" é
preferível, expressando um vínculo positivo com o objeto de interesse sem a
conotação negativa.
O compromisso ambiental pode ser egoístico, altruístico ou biosférico. O
compromisso egoístico envolve cuidar do ambiente próximo visando benefícios
próprios, similar ao ambientalismo antropocêntrico, que valoriza o ambiente por seu
papel em manter e melhorar a qualidade de vida humana. O compromisso
altruístico, por outro lado, considera os direitos de outros grupos, nações e futuras
gerações de usufruir dos recursos, promovendo a preservação além do que é
visível. Já o compromisso biosférico abrange a preocupação com a preservação
global, incluindo a fauna, flora e a atmosfera, valorizando a natureza por seu valor
intrínseco.
Há diversas expressões na literatura que designam o construto do compromisso próecológico, como responsabilidade ambiental, ambientalismo, ecologismo,
consciência ambiental, entre outros. Todas elas referem-se a uma predisposição
geral à ação voltada ao cuidado e conservação do ambiente.
Compromisso pró-ecológico pressupõe consciência dos danos que ações
descuidadas podem causar, levando a práticas de cuidado mesmo em um cenário
antropocêntrico com apelos de consumo e desenvolvimento material. O
conhecimento é considerado um componente essencial do compromisso, pois nos
comprometemos com aquilo que conhecemos. Isoladamente, o conhecimento não
promove mudanças de comportamento, mas contextualizado com atitudes, crenças
e valores, leva à consciência ecológica.
Os instrumentos de mensuração do compromisso pró-ecológico surgiram nos anos
1970 para abordar problemas como poluição, crescimento populacional e redução
de recursos naturais. A Escala NEP (New Environmental Paradigm) é amplamente
usada, embora tenha limitações para grupos brasileiros. Outros instrumentos, como
a Escala de Interesse Ambiental e a medida de atitudes ecocêntricas e
antropocêntricas, também são utilizados, mas sem consenso sobre o que
exatamente medem.
A psicologia organizacional oferece um paralelo com o estudo do compromisso
organizacional, que também surgiu nos anos 1970, investigando o vínculo entre
pessoas e organizações através de cognições e afetos. Comprometimento
organizacional é um bom preditor de comportamento, e essa lógica pode ser
aplicada ao contexto ecológico.
O estudo do compromisso pró-ecológico enfrenta desafios teóricos e metodológicos,
como a necessidade de modelos consistentes, métodos homogêneos e integração
de diferentes indicadores. A influência do contexto e a necessidade de considerar o
futuro como componente do compromisso são aspectos essenciais.
Em resumo, o compromisso pró-ecológico é distinto de preocupação ambiental e vai
além da ação concreta, incluindo motivos e intenções que levam à ação. É um
conceito central para a promoção de práticas de cuidado e conservação do
ambiente, oferecendo uma abordagem positiva e integrativa que facilita a
colaboração interdisciplinar e a aplicação prática dos resultados de pesquisa.

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